terça-feira, 10 de novembro de 2009

Consciência ambiental: Informação e ação

Renata Amoras

Na virada do ano de 1999 para 2000, o mundo globalizado temia pelo bug do milênio, um erro de programação, que poderia travar todos os computadores, causando prejuízos econômicos incalculáveis. O pânico histórico demonstra como a humanidade depende de sistemas de comunicação para sua sobrevivência. A informação hoje, mais que nunca, é um bem inalienável, sem o qual o ser humano torna-se praticamente invisível.

Quase uma década depois do bug que não aconteceu, outra notícia estarrecedora incomoda as pessoas: o aquecimento global. Segundo a Convenção das Nações Unidas Sobre as Mudanças Climáticas, a temperatura média do planeta já subiu 0,6 graus centígrados no século 20 e as projeções indicam que subirá entre 1,4°C e 5,8°C até o ano 2100 com efeitos catastróficos para a vida e a sobrevivência, se nada for feito para deter o processo.

O alerta vermelho aponta para uma mudança radical na postura das nações e no comportamento da população. De nada adianta o discurso da sustentabilidade se, de fato, nem governos, empresas, nem cidadãos se dão conta que é preciso agir, transformar o discurso em prática.

O assunto extrapola a esfera governamental e passa a ter destaque nas conversas informais entre os cidadãos, alimentado na imprensa por editoriais favoráveis ao desenvolvimento sustentável. No entanto, a informação que cada indivíduo adulto recebe sobre a questão, não significa, necessariamente, que essa pessoa tenha formado uma consciência ambiental, a ponto de provocar em si uma mudança de atitude.

A comunicação, como instrumento de mobilização social, é o meio que deveria encurtar esse espaço. No entanto, não basta lançar informações massivas, sem orientação a um público-alvo. Há de se manter os atores sociais engajados na causa proposta. Como em tudo que se refere ao debate público, a comunicação, principalmente a produzida pela mídia, dado seu caráter independente, é, na essência um ato político, que deve ser direcionado; manter a sua natureza dialógica, para que surta o efeito esperado.

Ainda não sabemos em que momento a informação se transforma em conscientização, a ponto de criar uma nova cultura na sociedade. Até que ponto, a informação originada na mídia estimula a pessoa a agir e, conseqüentemente, formar uma consciência ambiental? A imprensa pode alterar as atitudes individuais? Há muito que fazer na parte da comunicação social para tornar a imprensa um instrumento eficiente e eficaz de mobilização da sociedade.

A melhor maneira de perceber a realidade de uma comunidade é enxergá-la através dos olhos de cada indivíduo que a compõe. A partir do pressuposto de que as pessoas respondem a estímulos, suas atitudes deveriam ser comumente, provocadas pela formação de uma consciência, a partir do conhecimento adquirido. Assim, diante do mundo globalizado e informatizado, os indivíduos contam com as ferramentas necessárias e suficientes para tomadas de decisão.

Assim, para se construir a opinião pública, faz-se necessário informar as pessoas para que elas reflitam sobre o assunto e comecem a discutir o tema. Em suma, a opinião pública, por ser um movimento social, está em constante transformação, e a imprensa, por seu caráter mobilizador, exerce forte influência na sociedade, ora insuflando a massa, ora calando esse mesmo público, na medida em que decide qual será o editorial.

É necessário que haja o debate público, o incentivo ao diálogo, para que, ao meditar sobre o assunto, haja a construção de uma consciência coletiva. Cada indivíduo deve se sentir parte do problema e parte da solução também. É preciso ações para garantir que as gerações futuras sejam compostas de cidadãos conscientes e responsáveis para com nosso planeta.



Anjos caídos não voltam ao Paraíso

Renata Amoras

Está passando da hora de pararmos de discutir o sexo dos anjos, quando o assunto é segurança pública. Nós, todos aqueles que revelamos publicamente nossos pensamentos clarividentes ou asneiras pretensiosas nas mídias; sejamos jornalistas, autoridades ou outros bichos estranhos.
Vou desligar a televisão, não comprarei mais jornais, e, pra não vacilar, deixarei de pagar a conta da Internet. Pronto. De agora em diante só lerei bons livros e ouvirei boa música. Será que assim, ao desligar-me do mundo, ele será mais bonito, mais cartão postal, mais Paraíso e menos Inferno? Suponho que não. A informação, ou melhor, o conhecimento, gerado pela reflexão e debate público, é imprescindível para que nós, habitantes deste planeta, tomemos atitudes em prol de toda a comunidade e de um futuro promissor para as gerações que nos sucederão.
Essa informação mobilizadora e libertadora está nos canais de comunicação. Bobagem desplugar-me, não adianta. Sem medo de ser feliz, levanto a bandeira por uma imprensa livre e responsável. Nesse sentido, é fundamental que o trabalho jornalístico seja respeitado e incentivado por aqueles não temem a verdade e que prestam contas à sociedade; que assumem seus erros e demonstram disposição em repará-los. Porque somente um país que respeita a liberdade de expressão pode se dizer democrático.
A imprensa é, pois, legitimada pela sociedade como sua representante. Nesse sentido, pode e deve assumir uma função fiscalizadora, embora nosso Presidente não pense assim. O equívoco está quando ela ultrapassa ou confunde essa missão, quando a denúncia se faz pela denúncia; quando o jogo político suplanta o interesse público. Ou pior, quando a informação não tem nenhum valor, a não ser o de afagar vaidades. E informação sem valor não gera conhecimento, portanto, não provoca mudança de comportamento. Empobrece e enfraquece a sociedade.
O povo bem informado luta por seus direitos; lembremo-nos do movimento pelas Diretas Já, do Impeachment e da emocionante vitória de um operário eleito para a Presidência do Brasil. Nossa história seria a mesma se ainda tivéssemos uma imprensa amordaçada? Se ela própria não fosse aguerrida e fiscalizadora da sociedade?
Se já vencemos a batalha por um país de direitos, que tal unirmos esforços pela paz? Esse é o anseio de uma população, cansada de tantas reportagens funestas.
Recentemente, fomos esbofeteados pela imagem de um helicóptero policial caindo em chamas no Rio de Janeiro, abatido por traficantes. Na mesma semana, evidenciando o estado caótico do sistema de segurança pública, e confirmando a existência de uma “banda podre” nas polícias, outras imagens revoltantes: o descaso de policiais cariocas com o corpo agonizante do coordenador de projetos sociais do grupo AfroReggae, Evandro João da Silva. Deboche total de quem deveria defender a vida.
Por outro lado, a burocracia e outras desculpas oficiais impedem de se tratar a segurança pública com a seriedade que ela exige. É governo acusando governo, num jogo de empurra lastimável. Enquanto isso, o cidadão vira alvo.
Em meio à guerra urbana instalada nas grandes cidades, a população não quer saber de quem é a responsabilidade, se do governo federal, estadual ou municipal. Ela quer é a solução, portanto, o mais lógico é somar esforços, fazer juntos a segurança pública. Existe alguma dúvida?
Da mesma forma como a sociedade brasileira conseguiu realizar o sonho de restabelecer o Estado democrático e recuperar seus direitos, agora é a vez da luta pelo Brasil seguro. Políticos, imprensa e sociedade precisam se irmanar nessa batalha entre o bem e o mal. Cada um no seu papel. Caso contrário, seremos como anjos caídos (pela omissão), sem chances de voltar ao Paraíso (por imerecimento), se é que ele existe.
De minha parte, recuso a passividade do papel de vítima da violência, quero ser protagonista na luta pela cultura de paz. Como profissional, mãe e cidadã, não me calo, nem me acomodarei.