Renata Amoras
Na virada do ano de 1999 para 2000, o mundo globalizado temia pelo bug do milênio, um erro de programação, que poderia travar todos os computadores, causando prejuízos econômicos incalculáveis. O pânico histórico demonstra como a humanidade depende de sistemas de comunicação para sua sobrevivência. A informação hoje, mais que nunca, é um bem inalienável, sem o qual o ser humano torna-se praticamente invisível.
Quase uma década depois do bug que não aconteceu, outra notícia estarrecedora incomoda as pessoas: o aquecimento global. Segundo a Convenção das Nações Unidas Sobre as Mudanças Climáticas, a temperatura média do planeta já subiu 0,6 graus centígrados no século 20 e as projeções indicam que subirá entre 1,4°C e 5,8°C até o ano 2100 com efeitos catastróficos para a vida e a sobrevivência, se nada for feito para deter o processo.
O alerta vermelho aponta para uma mudança radical na postura das nações e no comportamento da população. De nada adianta o discurso da sustentabilidade se, de fato, nem governos, empresas, nem cidadãos se dão conta que é preciso agir, transformar o discurso em prática.
O assunto extrapola a esfera governamental e passa a ter destaque nas conversas informais entre os cidadãos, alimentado na imprensa por editoriais favoráveis ao desenvolvimento sustentável. No entanto, a informação que cada indivíduo adulto recebe sobre a questão, não significa, necessariamente, que essa pessoa tenha formado uma consciência ambiental, a ponto de provocar em si uma mudança de atitude.
A comunicação, como instrumento de mobilização social, é o meio que deveria encurtar esse espaço. No entanto, não basta lançar informações massivas, sem orientação a um público-alvo. Há de se manter os atores sociais engajados na causa proposta. Como em tudo que se refere ao debate público, a comunicação, principalmente a produzida pela mídia, dado seu caráter independente, é, na essência um ato político, que deve ser direcionado; manter a sua natureza dialógica, para que surta o efeito esperado.
Ainda não sabemos em que momento a informação se transforma em conscientização, a ponto de criar uma nova cultura na sociedade. Até que ponto, a informação originada na mídia estimula a pessoa a agir e, conseqüentemente, formar uma consciência ambiental? A imprensa pode alterar as atitudes individuais? Há muito que fazer na parte da comunicação social para tornar a imprensa um instrumento eficiente e eficaz de mobilização da sociedade.
A melhor maneira de perceber a realidade de uma comunidade é enxergá-la através dos olhos de cada indivíduo que a compõe. A partir do pressuposto de que as pessoas respondem a estímulos, suas atitudes deveriam ser comumente, provocadas pela formação de uma consciência, a partir do conhecimento adquirido. Assim, diante do mundo globalizado e informatizado, os indivíduos contam com as ferramentas necessárias e suficientes para tomadas de decisão.
Assim, para se construir a opinião pública, faz-se necessário informar as pessoas para que elas reflitam sobre o assunto e comecem a discutir o tema. Em suma, a opinião pública, por ser um movimento social, está em constante transformação, e a imprensa, por seu caráter mobilizador, exerce forte influência na sociedade, ora insuflando a massa, ora calando esse mesmo público, na medida em que decide qual será o editorial.
É necessário que haja o debate público, o incentivo ao diálogo, para que, ao meditar sobre o assunto, haja a construção de uma consciência coletiva. Cada indivíduo deve se sentir parte do problema e parte da solução também. É preciso ações para garantir que as gerações futuras sejam compostas de cidadãos conscientes e responsáveis para com nosso planeta.